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quinta-feira, 25 de maio de 2023

João Lopes Certeiro

"A pesquisa do Data Folha que aponta que 75% de motoristas de aplicativos e entregadores de refeições rejeitam a contratação via CLT me fez lembrar um caso clássico de erro metodológico em pesquisas. (Link para a Pesquisa do Data Folha no primeiro comentário.)

Durante a Segunda Guerra Mundial estatísticos da equipe de Abraham Wald analisavam todos os aviões que voltavam das batalhas e destacavam as áreas com mais marcas de balas com o objetivo de identificar onde era preciso melhorar a blindagem dos aviões.

Enquanto os engenheiros recomendavam o reforço nos pontos com mais perfurações, Wald recomendou não reforçar essas áreas mais atingidas e blindar as áreas sem marca nenhuma, como os motores, por exemplo. Por óbvio, ninguém estava analisando as marcas de balas nos aviões que não voltaram.

Este caso ilustra o que chamamos em Pesquisas de Viés de Sobrevivência. Quando usamos uma única fonte de informação disponível como sendo suficiente, vamos ignorar grande parte das causas dos problemas. Às vezes, a resposta mais importante está na informação que está faltando.

Os resultados da Pesquisa do Data Folha em relação à contratação via CLT seria bem diferente se o Instituto da Folha ao invés de entrevistar apenas motoristas e entregadores ativos nos aplicativos Uber e iFood tivesse o mínimo de rigor metodológico e entrevistasse também a mesma quantidade de motoristas e entregadores que abandonaram as plataformas porque não conseguiram sobreviver com os ganhos ou tiveram que abandonar o trabalho por conta de acidentes, adoecimentos ou pela carga de trabalho exaustiva e a servidão por dívida.

O Data Folha resolveu contar as marcas de balas só nos aviões que conseguiram voltar. Já era um erro metodológico em 1945, imagina hoje. O Data Folha cometendo um “erro primário" como esse, se é que foi erro, em uma pesquisa financiada pelos próprios aplicativos, me lembrou também a frase do Millôr: "Livre como um Taxi". No caso do Data Folha, livre como um Uber...

O Data Folha já foi melhor. Não muito, mas já foi."
Do Roberto Xavier