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segunda-feira, 18 de março de 2019

Mario de Andrade, Manuel Bandeira, Meu Pai e Eu


Há exatos 25 anos perdi meu pai: José Bueno de Freitas tinha 49 anos e eu 22, o mesmo tempo que Mário de Andrade trocou cartas com Manuel Bandeira.
Ontem na volta de Curitiba escolhi trazer o livro de Bandeira que contém o poema Mário de Andrade Ausente e que versa sobre a morte do querido amigo.
Não tive oportunidade de viver essa cumplicidade que os dois poetas puderam e que tanto nos brindou com tamanha criação compartilhada de dois gigantes de nossa literatura.
Mas se escrevo essas mal traçadas linhas o faço porque foi meu querido pai quem mais me incentivou a ser próximo dos livros e a amar poesias.
Os amigos e, principalmente, as amigas se lembram de como “Seu Juca” era carinhoso e sempre fazia questão de deixar algo escrito em forma de poesia com aquela bela letra de forma.
Ai que saudade que dá.
Com tristeza confesso nem lembro mais de sua voz, mas jamais esquecerei do seu legado, pois toda a vez que eu abrir um livro sei que há um pouco de você nessa ação.

Obrigado Pai.
Eu Sinto Muito Pai.
Eu Te Amo Pai
Eu Sou Grato Pai.







Mario de Andrade Ausente

Anunciaram que você morreu.
Meus olhos, meus ouvidos testemunharam:
A alma profunda, não.
Por isso não sinto agora a sua falta.
Sei bem que ela virá
(Pela força persuasiva do tempo).
Virá súbito um dia,
Inadvertida para os demais.
Por exemplo, assim:
À mesa conversarão de uma coisa e outra,
Uma palavra lançada à toa
Baterá na franja dos lutos de sangue.
Alguém perguntará em que estou pensando,
Sorrirei sem dizer que em você
Profundamente

Mas agora não sinto a sua falta.

(É sempre assim quando o ausente
Partiu sem se despedir:
Você não se despediu.)

Você não morreu: ausentou-se.
Direi: Faz já tempo que ele não escreve.
Irei a São Paulo: você não virá ao meu hotel.
Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.
Saberei que não, você ausentou-se. Para outra vida?
A vida é uma só. A sua continua.
Na vida que você viveu.
Por isso não sinto agora a sua falta.


O paulistano Mário Raul Morais de Andrade partiu em 25 de fevereiro de 1945 aos 52 anos; Já o amigo recifense nos deixou em 13 outubro de 1968: Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho tinha 82 anos e morava no Rio de Janeiro. Ambos grandes nomes do Movimento Mordernista que se autodeclaravam Modernos e que hoje  embalam a minha saudade em dias cheios de vazios.