quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Tom Capri é o melhor


Você é alienado (um autêntico
vir obscurus) e não sabe.
Veja aqui as razões. Faça
também o teste para saber
em que grau está a sua
alienação (virobscuridade). 

 
A alienação é um fenômeno cruel e devastador. Pelo simples fato de que nos torna prisioneiros da ignorância. Sem que tenhamos noção de que ignoramos. A alienação atinge a todos nós indiscriminadamente, inclusive a mim e a você. Celebridades, intelectuais e até mesmo gênios são alienados. Ninguém escapa. Cada vez mais, sabemos menos. E, o que sabemos, sabemos erradamente, alimentando e carregando convicções falsas ou equivocadas a respeito de tudo, ainda que estejamos sempre convencidos de que pensamos corretamente. Queira ou não, você também é alienado, isto é, um vir obscurus (do latim, vir = masculino, macho ou ser humano (é também a raiz da palavra viril); obscurus = obscuro, alienado, ignorante a respeito do essencial). Mas não se assuste, você não está sozinho. Pode até já ter adquirido consciência da essência das coisas e se livrado do problema, o que duvido, mas tão logo veio ao mundo se tornou outro vir obscurus (alienado) como eu. E corre o risco de ter permanecido assim até hoje, ao contrário do que ocorreu comigo (foi duro, mas já escapei disso, felizmente --- ufa!). Ser um vir obscurus (alienado) é não saber o que de fato rola na realidade e também desconhecer o que está por trás de tudo (ou seja, é estar alheio à essência do real, às verdadeiras causas do que acontece). A maioria esmagadora dos seres humanos imagina que suas convicções a respeito das coisas são corretas. Não sabe que, no mais das vezes, elas não passam de convicções falhas e equivocadas. Normalmente, achamos que sabemos tudo, mas não sabemos nada. No primeiro texto a seguir, você fica sabendo por que é também um alienado (um vir obscurus). No segundo, que vem imediatamente em seguida, você tem um teste no qual pode avaliar o seu grau de alienação (virobscuridade, neologismo meu). Acompanhe.


Por que você é um alienado (vir obscurus)


A lavagem cerebral que nos tem sido imposta pela sociabilidade --- levando-nos a pensar errado sobre tudo --- é epidêmica e universal, já se globalizou e tomou conta do Planeta. O cérebro humano condicionou-se aos clichês, à visão superficial e equivocada de tudo, ou seja, a isso que eu chamo de consensualidade oficial. Mais: não há nenhum sinal de que as mentes, na sua maioria, venham a se conscientizar e a se libertar disso tão cedo. Você também é um deles, é outro que não conseguiu escapar. Comprove.

As noções e os conceitos mais relevantes que as pessoas normalmente retêm e carregam, como os de democracia, política, Estado, polícia, direito, religião, socialismo, comunismo, entre tantos outros, estão na maioria das vezes equivocados. Não batem EM NADA com o que eles, na verdade e cientificamente, são.

Fato é que existem, de um lado, uma realidade oficial --- reconhecida e aceita consensualmente por todos --- e, de outro, a realidade verdadeira, essa que aí está à nossa frente e que escapa à maioria esmagadora dos humanos, ou melhor, que raros já compreenderam e sabem o que ela efetivamente é (o que de fato rola no real).

A alienação não escolhe suas vítimas. Atinge a todos indiscriminadamente: pobres, ricos, feios, bonitos, até mesmo celebridades, intelectuais, sábios e gênios. Em especial, os políticos. Pior é que eles não sabem que já nasceram picados pela alienação (virobscuridade). Nem que a alienação é o pior de todos os males, justamente porque é o que nos incapacita a enxergar nossa ignorância. De tal maneira que, assim incapacitados, também não conseguimos enxergar as convicções equivocadas que portamos nem as verdadeiras causas dos males e tragédias que nos abatem.

E a condição para superarmos a alienação (virobscuridade) --- isto é, para que possamos vir a entender a realidade e as verdadeiras causas dos males e tragédias que nos atingem --- é adquirirmos consciência de que a alienação de fato existe e de que somos todos alienados. Enfim, para podermos nos libertar de tal prisão --- e a alienação, acabamos de ver, é a pior das prisões ---, é necessário antes de mais nada perceber que essa prisão existe, o que ela realmente é e por que nos deixamos nela aprisionar. Ou seja, para nos libertarmos da prisão que é a alienação precisamos, antes de mais nada, nos dar conta de que estamos nela, por que estamos nela e o que ela de fato é.

O que, afinal, produz a alienação (a virobscuridade)? O que faz de todos nós seres alienados (vir obscurus)? Respondo: a verdadeira origem do problema está na divisão da humanidade em duas classes básicas, o que aconteceu dezenas de milênios atrás (por razões que deixo para outra ocasião abordar) e na qual estamos até hoje. Antes de demonstrar por que a divisão de classes fez de todos nós alienados, vamos ao que é isso.

É fato, a partir dessa divisão, uma classe de indivíduos passou a trabalhar para outra sem ser devidamente compensada, primeiro na condição de escravo (até a antiguidade clássica), depois na de servo (Idade Média na Europa) e, por fim, na de assalariado, tal qual ocorre em nossos dias.

Trabalhar para outro já é, por si só, ato de violência hediondo e, ao mesmo tempo, violação do direito mais sagrado do homem, que é o de poder fazer uso de sua força de trabalho como bem entende, para garantir a própria sobrevivência e a da espécie, sem ser explorado pelos outros. Tal violência, acompanhada dessa violação de direito humano que é essencial, se exacerba e chega ao limite quando o uso da força de trabalho alheia não é devidamente compensado, como ocorre rotineiramente na sociedade atual.

Em toda sociedade de classes com esse perfil, especialmente na de talhe capitalista como temos hoje, nunca --- repito, NUNCA!!! --- aquele que trabalha é devidamente compensado. Sempre --- repito, SEMPRE!!! ---, o trabalhador dá mais, em valores, ao seu empregador do que recebe dele em troca, o que se configura como roubo de força de trabalho. Você que trabalha deve saber que seu trabalho rende muito mais, em valores, ao seu patrão do que o que este lhe dá em troca, na forma de salário.

Já mensurou quanto só o seu trabalho rende, em valores, ao seu empregador? Já avaliou o quanto o seu salário é imensamente inferior ao que sua força de trabalho --- apenas ela --- proporciona, de ganhos de capital, ao seu patrão? Capital não é o ganho legítimo acumulado pelo capitalista, vindo do suor de seu trabalho, empenho e dedicação. Não. Esta é a visão superficial que o senso comum tem do capital e que fica no limite de sua aparência. Na essência, capital é a quantidade de força de trabalho que é roubada do trabalhador e está cristalizada em cada mercadoria, a qual, tão logo é vendida, assume a forma final de capital, garantindo assim a acumulação.

Isto sem contar com o fato de que é você --- exclusivamente você, o trabalhador --- quem constrói o próprio salário com o suor de seu trabalho. À medida que você vai trabalhando, o empregador vai fazendo capital com a venda daquilo que seu trabalho produziu ou a partir do serviço que você prestou. Ao final do mês, já de posse do capital que fez com o seu trabalho, o empregador retira parte desse montante para pagar o seu salário. Portanto, nunca é o empregador que constrói o salário de seu empregado.

Ou seja, a quantidade de força de trabalho que você despendeu --- a mesma que lhe é roubada todos os dias em escala --- é que de fato construiu e produziu o seu salário, sem que o empregador tenha se empenhado para tanto. Nem dá para dizer que o empregador empenhou-se na administração e coordenação de seu trabalho, porque até isto é feito por trabalhadores especializados (geralmente, executivos), o que faz com que o salário não passe de truque. Além do mais, o trabalhador se ilude ao achar que o salário o remunera devidamente por todo o trabalho que despende, pois é o contrário o que ocorre.

Vamos agora ao que faz com que a divisão de classes seja a verdadeira fonte de origem da alienação, sua causa primária. Na sociedade primitiva de nossos ancestrais, ainda sem a divisão de classes, o ser humano sobrevivia da caça, da pesca, da busca de frutos e vegetais etc. Ou seja, lutava pela conservação da espécie em contato direto com a natureza, da qual ele também sempre foi parte. O trabalho era, portanto, enriquecedor.

Toda vez que ia à caça, à pesca ou à procura de frutos e vegetais, o homem voltava espiritualmente enriquecido. Nesse processo, de luta diária pela sobrevivência e conservação da espécie, ele ia inventando lenta e gradualmente as coisas, como o porrete, o arco e a flecha, o machado etc. Nessa forma de trabalhar, em que precisava sempre matar um leão por dia (praticava naturalmente “esportes radicais”), o homem ia construindo seu modo de vida, seus hábitos e formas de comportamento, enfim, sua existência. A mente se enriquecia à medida que o homem ia ao trabalho para garantir sua subsistência e a dos seus (em suma, da espécie).

No momento histórico em que nos deparamos com a divisão de classes e um homem passou a subordinar outro no trabalho, para se beneficiar e tirar proveito disto, o trabalho deixou de ser enriquecedor. A humanidade ingressou numa nova era. A classe que oprimia e subordinava (dominante) passou então a submeter muitos inicialmente ao trabalho escravo, depois à servidão e, nos dias de hoje, aos salários.

Com isso, os indivíduos desta classe perderam o contato direto que até então mantinham com a natureza, pois outros passaram a trabalhar para eles. Já os que trabalhavam (no início, os escravos --- a classe oprimida) também deixaram de estar em contato direto com a natureza, pois seu trabalho passou a ser rotineiro, todos os dias, com obrigação de cumprimento de carga horária etc. E mais: o escravo só fazia uma coisa, quando muito duas ao dia, e por obrigação, na maioria das vezes num único local de trabalho. Isto não mudou em essência até hoje. O trabalhador de hoje é um escravo moderno: tem força de trabalho roubada diariamente e em escala, e sempre garante muito mais em valores a seu patrão do que recebe em troca.

A divisão em duas classes básicas nos brindou, assim, com a especialização, ou melhor, com a divisão social do trabalho, enfim, com a criação de zilhares de profissões, do padeiro ao motorista de táxi, e de zilhares de disciplinas científicas, da física à neurociência: um faz uma coisa, outro faz outra, e todos repetem todos os dias o que fazem rotineiramente, a mando de outro ou mandando o outro fazer. A partir de então, o trabalho deixou de ser enriquecedor e tornou-se chato e monótono, como é até hoje, não importa que a profissão escolhida seja a mais encantadora e acolhedora do mercado. Chico Buarque de Holanda sempre se queixou do desgaste e do estresse que lhe traziam a obrigação de fazer pelo menos um disco por ano.

Aquilo de o ser humano escolher o que fazer para garantir a sobrevivência --- um dia pescar, outro caçar ou sair em busca de frutos e vegetais, de acordo com suas necessidades --- havia acabado. O homem que passou a comandar o trabalho alheio já não tinha escolha: só podia administrar o dispêndio de força de trabalho daquele a quem oprimia, para tirar o máximo de proveito daquele empenho. Já aquele que trabalhava também não tinha escolha, a não ser obedecer ao seu senhor e produzir em quantidade e com qualidade. Nenhum dos lados tinha consciência de que as coisas passaram a andar assim.

Enfim, foi uma derrota de ambos os lados, de toda a humanidade, não importa se num dos lados estava o opressor e no outro o oprimido. Os dois lados perderam o contato direto com a natureza, a não ser quando as funções do trabalhador esporadicamente o exigiam. Com as sucessivas gerações, os humanos foram perdendo de vista que a realidade era assim e que o trabalho, naquela época, era altamente enriquecedor. Foram se esquecendo também de que, na era do trabalho enriquecedor, cada um podia construir sua própria existência de maneira saudável e erguer seu modo de vida em total liberdade. Não era uma vida fácil, é verdade, mas também não tinha nenhum traço dessa irracionalidade que veio a ter.

Aos poucos, todos passaram a achar “normal” esse novo modo de vida, em que um homem trabalha para outro “em troca” de proteção, teto e alimentos, como no tempo dos escravos da antiguidade clássica... ou “em troca” de proteção e com direito a ficar com uma parte do que produzia, como na servidão da Idade Média... ou ainda “em troca” de um salário, como é nos dias de hoje. Em resumo, a humanidade perdeu de vista o que é de fato a realidade e se alienou. Viramos todos alienados (vir obscurus).

Aí está a causa verdadeira. Até aquele momento em que se deu a divisão em classes, o homem sabia com clareza que seu modo de vida --- em suma, tudo o que era por ele criado e produzido --- derivava daquela sua forma de trabalho enriquecedora. O homem também sabia que, quanto mais trabalhava, mais ampliava seus horizontes e avançava no conhecimento. Quando se dá a divisão em classes, isso tudo cessa: o homem deixa de se dar conta de como era aquela realidade, simplesmente esquece que é da forma como luta pela sobrevivência que deriva seu modo de vida, toda a sua existência.

Não há como negar que a divisão em classes (luta de classes) salvou a humanidade. Levado a produzir em escala, o trabalhador --- seja ele escravo, servo, operário carregador de piano ou criador de tecnologia --- foi multiplicando suas invenções (principalmente, de bens materiais, do automóvel ao celular e à internet), até chegarmos ao imenso progresso alcançado até aqui.

Mas, por ser assim irracional --- em que a luta de duas classes antagônicas só concorre para aumentar as vendas e garantir a acumulação ---, esse modo de produzir caminhou rapidamente para o colapso e o esgotamento, até chegarmos às crises atuais. Hoje, a luta de classes nos tem trazido muito mais destruição do que progresso. Atualmente, é a mais séria ameaça à vida no Planeta.

Uma simples latinha de refrigerante contém altíssimo índice de devastação ambiental: além do roubo em escala de força de trabalho que há nela cristalizado, a latinha contém também metal e água, ambos extraídos da natureza. Há ainda nela os demais insumos utilizados, que resultaram em mais destruição. Se considerarmos tudo o que foi produzido pela humanidade até aqui e o que isto provocou de poluição e destruição ambiental, o quadro de devastação se torna assustador.

Como a realidade se tornou assim penosa, monótona, chata e sofrida (ou seja, ameaçadora e ao mesmo tempo insuportável) --- dada a predominância da violência e da violação que é, como vimos, um ser humano trabalhar para outro e ter força de trabalho roubada diariamente ---, os que se conformaram passaram a procurar desesperadamente fuga nas drogas, no entretenimento, no sexo pelo sexo, enfim, em todas as formas possíveis e imagináveis de escapismo.

Os que não conseguiram se conformar tentaram a revolução. Ou se afundaram na barbárie da criminalidade e do narcotráfico. Ou ainda optaram pelo suicídio. Mas nada resolve, nada tem dado certo diante da irracionalidade em que se assenta a sociedade de classes. E mais: nada nos afasta de toda essa infelicidade que dela deriva. Por todos os caminhos que enveredarmos, o preço será sempre alto demais, muitas vezes a morte.

O que mais temo, no momento, é que você que me lê agora seja mais um alienado contumaz, daqueles que dão um trabalho danado para “corrigir”. É? Torço muito para que não. Faça o teste a seguir e veja se você é realmente um deles ou não. Chance única de conhecer a solução para sua alienação, caso você seja mesmo um deles.


Teste para ver
em que grau está
a sua alienação


1 - Sua alienação tem grau 1 se você ainda não sabe que democracia, política, Estado, polícia, direito, enfim, todas as instituições que aí estão não passam de instrumentos da classe dominante (hoje, do capital) para garantir e potencializar a prática do roubo de força de trabalho em que se assenta o capitalismo (tema já abordado e explicado no primeiro texto).

Ou seja, sua alienação tem grau 1 se você ainda não sabe que tais instituições são apenas meio para potencializar e multiplicar a violência e a violação desse direito sagrado do ser humano, de poder fazer uso livremente de sua força de trabalho para garantir a sobrevivência da espécie (como também está explicado no primeiro texto). Todas essas instituições funcionam assim desde sua origem, na antiguidade clássica, e permaneceram como tal até nossos dias. As mudanças que ocorreram foram muito mais quantitativas, sua essência mudou pouco do ponto de vista qualitativo.

2 – Sua alienação tem grau 2 se você acredita que já tivemos democracia no Planeta e que bastaria agora aperfeiçoá-la para consolidá-la. Democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo. Nunca tivemos isso, nem algo próximo disso, em lugar nenhum, nem mesmo uma réstia ou arremedo de democracia. E nunca teremos enquanto vivermos na sociedade de classes, posto que a “democracia real”, essa que aí está, praticamente o oposto da autêntica, sempre foi instrumento da classe dominante para fazer prevalecer seus anseios e necessidades.

É assim desde sua criação, na Grécia Antiga. A democracia foi inventada pela classe dominante grega, dos proprietários, para que cessassem entre eles as intensas disputas internas pela propriedade das terras, dos escravos, das mulheres, dos filhos, de tudo. Era preciso acalmar os cidadãos gregos, os únicos que, na qualidade de proprietários, tinham direito a voto. A solução encontrada foi a democracia “exclusiva” da classe dominante grega. Surgem com ela, para consolidá-la, o Estado, as leis, a política, a polícia e todas as instituições que perduram até hoje, sempre de proteção e conservação das classes dominantes.

Portanto, a democracia tal como nasceu na Grécia Antiga só valia para a classe dominante grega, isto é, para os cidadãos, os únicos que eram proprietários. Não valia para o “povo”, formado pelos plebeus, escravos, mulheres, jovens e crianças, os quais não tinham direito a voto nem à propriedade, na verdade, não tinham direito a quase nada. A “democracia real” é assim até hoje e nada tem de democracia autêntica.

Dessa forma, cai por terra a noção, vinda de Churchill, de que a democracia é o “menos ruim” dos regimes políticos, posto que, a rigor, ela nunca existiu. Pelo mesmo motivo, também não faz sentido achar que precisamos, podemos e devemos aperfeiçoá-la, uma vez que é impossível aperfeiçoar o que jamais existiu.

A “democracia” que temos hoje é na verdade o pior dos governos, por ser o que mais praticou a violência e a violação de direitos humanos fundamentais, como já vimos, além de não ter nada de democracia verdadeira. Ademais, a “democracia” é hoje responsável, como vimos no primeiro texto, por toda essa devastação ambiental que aí está e por colocar em risco a vida no Planeta, inclusive a humana.

Nunca na história da humanidade uma forma de governo foi tão espúria e devastadora quanto a “democracia”. Daí eu chamá-la apropriadamente de demoniocracia. Mesmo quando a democracia contempla o trabalhador e lhe garante direito a férias, 13º, FGTS, aposentadoria e outros benefícios, ela o faz apenas para protegê-lo. Afinal, o trabalhador é aquele que precisa estar sempre em boas condições físicas para ter força de trabalho roubada em escala e agüentar o tranco, ou seja, para não sucumbir à violência e ao estresse que esse tipo de vida lhe causa.

3 – Sua alienação tem grau 3 se você ainda toma por socialismo ou comunismo algo que teria sido criado pela nossa imaginação, como modelo, fórmula ou sistema idealizado pelo homem e que passou a ser meta, ideal, utopia ou objetivo a ser perseguido. Socialismo e comunismo nunca foram modelo, fórmula ou sistema criado pelo homem e muito menos meta, ideal, utopia ou objetivo a ser alcançado. São tão somente situações possíveis de se concretizar, pelas quais a humanidade pode ocasionalmente enveredar ou não.

Não passam, portanto, de modos de trabalho e produção em que não temos mais as duas classes básicas abordadas no texto anterior. Em suma, são situações em que não há mais o controle, por uma classe (a dominante), dos meios de produção, como ocorre hoje no capitalismo. São situações pelas quais a humanidade poderá (ou não) enveredar, desde que trilhe caminhos muito específicos, os quais independem em grande parte de nossas vontades. Isto é o máximo que podemos afirmar hoje do socialismo e do comunismo, é o máximo de dados de que dispomos para conceituá-los corretamente.

O que podemos fazer, para que a humanidade possa vir a caminhar concretamente na direção do socialismo ou do comunismo (não como sonho ou utopia, mas como necessidade histórica), é acelerar o processo que levaria ao fim das classes (da luta de classes), ainda assim empreitada árdua e bastante complexa que também está para além de nossas vontades. Uma vez que as duas classes básicas são antagônicas e estão em conflito (o qual a cada dia se acirra mais) --- e uma vez que todo conflito tende a se resolver ---, o máximo que podemos fazer, no presente momento, é acelerar esse conflito (a luta de classes), para que ele chegue ao fim o mais rápido possível.

Se socialismo e comunismo não são modelo, fórmula ou sistema criados pelo homem, apenas situações que aí estão e pelas quais a humanidade pode vir a enveredar (como aconteceu com o capitalismo, que também não é modelo inventado pelo homem), não há como implantá-los. Ninguém sentou-se a uma mesa ou em frente a um laptop e criou ou bolou o socialismo ou o comunismo. Por isso, é impossível implantar o socialismo ou o comunismo onde quer que seja, muito menos substituir o capitalismo por um deles.

4 – Sua alienação tem grau 4 se você também acha que capitalismo é modelo a ser implantado onde dita a sua vontade. Também ninguém bolou, criou ou idealizou o capitalismo. É uma situação que se caracteriza pela luta antagônica de classes, em que a classe dominante controla os meios de produção e dita as regras, usando como meio e instrumento a “democracia”.

A humanidade já enveredou pelo capitalismo e agora encontra enormes dificuldades para dele se livrar. E não vai sair dessa situação tão cedo, pois isto independe, em grande parte, de sua vontade. O homem é um ser que se condiciona. E já se condicionou à sociedade de classes. Há algo mais difícil do que se livrar desse condicionamento?

Como o capitalismo não é igualmente modelo, fórmula ou sistema criado pelo homem, muito menos meta, ideal ou objetivo a alcançar --- a humanidade é que o enxerga equivocadamente assim ---, não dá para fazer a tão sonhada substituição do capitalismo pelo socialismo ou pelo comunismo nem implantar um dos dois onde há capitalismo. A propósito, esta foi a mais rasa quimera do stalinismo, que jamais poderia ter dado certo, como de fato não deu.

5 – Sua alienação atinge grau 5 se você, além de tudo, critica o socialismo e o comunismo pelo que tivemos em Cuba, URSS, China, Coreia do Norte etc. Ou se você critica esses países por acreditar que, neles, tivemos um dia socialismo ou comunismo. Nunca tivemos socialismo nem comunismo ou qualquer traço de ambos nem mesmo na URSS ou na China de Mao Tsé-Tung. Assim, carece de sustentação e base científica criticar o socialismo ou o comunismo pelo que supostamente tivemos de socialismo ou de comunismo no Planeta, pois nunca tivemos nada parecido com eles até hoje.

6 – Sua alienação atinge o grau de incorrigibilidade se você carrega e alimenta todas essas convicções aqui mencionadas, totalmente equivocadas, e não pretende arredar o pé de nenhuma delas, como turrão incorrigível. Neste caso, você salta de qualidade e se torna um alienado contumaz. E aí assume a condição daquele burrinho que é incapaz de rever as próprias convicções, uma vez que, como o pior dos cegos, irá persistir no erro, recusando-se a enxergar. Você sabe, errar é humano, mas persistir no erro... Abraço a todos.

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