sábado, 12 de julho de 2014

Jamil Snege da Noite

Ele amava os livros.

Ela amava as flores.

Conheceram-se. Ele lhe levava flores, ela comprou um livro - apaixonaram-se.

Os livros esquecidos, as flores minguando nos vasos, entregaram-se a uma paixão voraz de esperas e entregas em delírio.

À primeira trégua, saciados, ele voltou a visitar os livros e ela ressucitou violetas esmaecidas. Ele admirou as violetas e ela lhe deu em voz alta alguns poemas.

Mas ela não amava os livros nem ele queria sinceramente as flores.

Então houve ciúmes. De livros e flores. Preteridos, amaram mais e mais, respectivamente, flores e livros.

Cada qual à sua devoção, passaram a repudiar a devoção alheia. Ela atirou um livro de poemas na lareira, ele quebrou um vaso de crisântemos toldado de amarelo.

A casa - uma enorme e disforme biblioteca, um imenso jardim errático.

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