quinta-feira, 28 de maio de 2020

A “COMUNA DE PARIS” por Ernesto Germano




No dia 28 de maio de 1871, na França, 147 dirigentes da Comuna de Paris são encostados junto ao muro do Cemitério do Père-Lachaise e fuzilados por ordem da burguesia. Mas, o que foi a Comuna de Paris?

Em 1848, uma revolução, que já trazia o advento do movimento operário na história europeia, instaura a IIª República. Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão, é eleito presidente da França. Em 1851, dá um golpe de Estado e um ano depois torna-se imperador com o título de Napoleão III. Seu grande inimigo passa a ser a classe trabalhadora francesa. O regime imperial liberaliza-se lentamente e acelera a revolução industrial. Provocado por Bismarck, chanceler da Prússia, Napoleão III arrasta a França à Guerra Franco-Prussiana (1870). A derrota francesa traz a perda da Alsácia e Lorena para a Prússia, provocando a derrubada do império e a instauração da III República.
 
Com a queda de Napoleão III, em 1870, o Segundo Império Francês chegou ao seu final e a Terceira República ascendeu ao poder. A França, então, passou a ser dirigida por um governo provisório, ao mesmo tempo que a guerra com a Prússia continuava. Com eleições marcadas assim que o governo provisório assumiu (1871), uma disputa entre monarquistas e republicanos tomou conta do país. Os primeiros desejavam a rendição francesa, o que levaria à paz; os segundos, por outro lado, defendiam a continuidade da França no conflito, de modo que sua soberania nacional se tornasse indiscutível no caso de uma derrota prussiana. 

Os monarquistas venceram, mas o conflito não terminou imediatamente e os prussianos continuaram marchando sobre território francês em direção a Paris. 

Percebendo que o governo provisório pouco ou nada fazia para deter a marcha, os cidadãos parisienses armaram barricadas e organizaram uma resistência popular à entrada estrangeira na capital. Todavia, o governo finalmente assinou um armistício, que fez com que os parisienses se sentissem traídos: haviam se sacrificado por nada. O clima de revolta contra o governo de Versalhes era generalizado e tornou-se insustentável quando este retomou a cobrança de dívidas e do pagamento de aluguéis que havia sido suprimida durante o cerco. Deste modo, em março de 1871, a insurreição foi levada a cabo e trabalhadores parisienses, que formavam a Comuna de Paris, instalaram um governo de claras tendências socialistas: o exército foi trocado por grupos populares armados; a Igreja foi separada do Estado, sendo instituído o ensino não-eclesiástico, gratuito e obrigatório; a burocracia foi extinguida ao máximo; as indústrias passaram a ser dirigidas pelos próprios operários e as classes sociais foram extintas. Os operários de Paris ergueram uma bandeira vermelha no prédio da Câmara Municipal, lembrando o sangue derramado dos trabalhadores e mostrando a determinação de tomar nas mãos o próprio destino. Os dirigentes da Comuna de Paris não se apoderaram da totalidade das divisas depositadas no Banco Nacional Francês, conscientes do fato de o montante ser propriedade nacional, e tomaram para si apenas os valores necessários para manter os gastos da revolução, atender às necessidades imediatas da população faminta e dar continuidade às reformas.

Algumas medidas do governo da Comuna: - o exército regular francês foi extinto e substituído por milícias populares sendo as armas entregues ao povo; - a Igreja foi separada do Estado; - suprimiu a subvenção do culto (os padres deixaram de receber salários do Estado); - o trabalho noturno nas padarias foi proibido; - foi abolido o sistema de ‘multas’ sobre os trabalhadores (as ‘multas’ eram descontadas dos salários dos trabalhadores sempre que cometessem alguma ‘falta’ que os patrões considerassem grave); - foi promulgado um decreto em que todas as fábricas e oficinas que estivessem abandonadas ou improdutivas fossem entregues a cooperativas de trabalhadores; - foi promulgado um decreto determinando que o salário de todos os funcionários da administração e do governo não poderia ser superior ao salário normal de um operário; - foi dissolvida toda a antiga administração burguesa e substituída por novos órgãos democráticos constituídos por cidadãos eleitos diretamente pelo povo; - elegibilidade, revogabilidade e responsabilidade de todos os funcionários do governo (eram avaliados pelo povo); - o poder Legislativo e o Executivo foram unificados no órgão supremo da Comuna e transformados em “Instituição de Trabalho”; - a direção da Comuna criou o Comitê de Saúde Pública como uma extensão do próprio governo revolucionário.

Porém, apesar da organização que a caracterizou, a Comuna de Paris durou apenas dois meses. Em maio de 1871, as forças reacionárias armaram uma violenta ofensiva ao governo revolucionário, destruindo as barricadas levantadas por elas e executando sumariamente milhares de trabalhadores e deportando e prendendo outros tantos. Para combater os trabalhadores de Paris, o governo francês usou duas “manobras” vergonhosas: a) em acordo com o governo prussiano, também preocupado com a possibilidade do exemplo dos trabalhadores franceses chegar a seu país, conseguiu a libertação dos prisioneiros de guerra para que, em troca da liberdade, combatessem os operários de Paris (o governo de Bismarck libertou 100.000 soldados franceses para combaterem a Comuna); b) mesmo estando em guerra com a Prússia, autorizou a entrada de tropas e armas prussianas para ajudar no cerco da cidade rebelada.

Em outras cidades da França (Marselha, Lyon, Saint-Etienne, Dijon, etc), acompanhando o desejo de liberdade dos parisienses, os trabalhadores também tentaram tomar o poder. Mas o governo agiu rapidamente e a insurreição foi abafada nessas cidades deixando Paris sozinha. 

A Comuna foi derrotada após 71 dias em que os trabalhadores estiveram no poder. Os partidos revolucionários foram extintos e eliminados. Assim, a Terceira República Francesa, apesar do breve período de governo socialista-revolucionário, estabilizou-se e duraria praticamente até a Primeira Guerra Mundial.

Sobre a Comuna de Paris, escreveu Lenin:
“Só os operários permaneceram fiéis à Comuna até ao fim. Os republicanos burgueses e a pequena burguesia desligaram-se bem cedo: uns, assustados com o caráter proletário, socialista e revolucionário do movimento; outros, quando a viram condenada a uma derrota certa. Apenas os proletários franceses apoiaram sem medo e sem desânimo o seu governo, só eles combateram e morreram por ele, isto é, pela emancipação da classe operária, por um futuro melhor para todos os trabalhadores.” (Vladimir I. Lenin - À Memória da Comuna - escrito em setembro de 1916 - grifado no original)

A INTERNACIONAL

Muita gente diz besteiras falando que o hino A Internacional foi criado pelos comunistas da União Soviética. Pura ignorância histórica! A Internacional surgiu de um poema escrito pelo francês Eugène Pottier, em 1871. Ele havia participado da Comuna de Paris e escreveu sob a emoção dos acontecimentos. Em 1888, mesmo ano em que o Primeiro de Maio se transformou no Dia Internacional de Luta da Classe trabalhadora, Pierre De Geyter transformou nessa belíssima música que até hoje nos arrepia e faz os olhos lacrimejarem. 

VIVA A INTERNACIONAL! 

VIVA A COMUNA DE PARIS!

https://www.youtube.com/watch?v=DGIb--joV_w

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