sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

o Juca me representa

BLOG DO JUCA KFOURI
Ao general Pazuello - 17/12/2020

Caro general Eduardo Pazuello, eu cresci com medo do Exército.

Temia ser preso e torturado nem bem tinha completado 18 anos.

Verdade que eu vivia uma vida meio dupla, legal de um lado, clandestina do outro.

Verdade, também, que foi a ditadura a responsável por isso, por ter interrompido a democracia brasileira que nem tinha completado 20 anos, o que aconteceria em 1965, nas eleições que provavelmente reconduziriam JK à presidência ou elegeriam Carlos Lacerda.

Sabe o general que nenhum dos dois era comunista.

Pois bem. Cheguei a ser preso no DOI-CODI e interrogado por um jovem de cabelo bem curto que suponho fosse do Exército.

Do fim do AI-5 para cá eu passei a me esforçar para refazer a imagem das Forças Armadas brasileiras e tenho de admitir não haver por que temê-las, ao contrário.

Soube até de belos gestos de militares na proteção dos povos indígenas e pacifiquei minha distante relação com os fardados.

Nos últimos dias, porém, comecei a ficar muito preocupado, mais que já estava desde que o ex-capitão, praticamente expulso do Exército por terrorismo, assumiu o governo e o militarizou como nunca.

É que comecei a ler críticas que punham em dúvida a competência do ministro da Saúde não naquilo em que ele não poderia mesmo ser competente, no diagnóstico de uma gripezinha, por exemplo, já que não tem formação em medicina.

Mas li coisas inacreditáveis. Até que ele havia esquecido de encomendar seringas para as vacinas que um dia virão.

Vi o ministro, o general, ser chamado de "fantoche apalermado", alguém dizer que ele merece uma "biografia para ser lida sob revolta e náuseas" e também o vi chamado de "tranquilão" depois que perguntou a razão "para essa ansiedade, essa angústia".

Claro, tudo coisa de jornalistas, essa gente que adora falar mal dos outros.

Bem, ministro, quer dizer, general, convenhamos que mais de 183 mil mortos e mais de 7 milhões de infectados são motivos razoáveis para alguma ansiedade em torno, digamos, da vacinação.

Mas o que me fez sair de meus cuidados, e discrição, foi ter lido uma carta de leitor em que ele diz que se o senhor fosse o comandante brasileiro na Guerra do Paraguai nós hoje em dia estaríamos falando castelhano.

General, o senhor precisa cuidar se não de seu nome, dos seus Pazuellos descendentes, ao menos, do nome do nosso Exército.

Pense nisso, general.

Ser criticado é uma coisa, comum para quem exerce cargos públicos,

Ser ridicularizado é outra, principalmente se contamina também uma instituição.

Não apenas o senhor tem o nome a zelar.

Pense no marechal Luís Alves de Lima e Silva, nosso Duque de Caxias, Patrono do Exército Brasileiro.

Fico por aqui, com a melhor das intenções

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